Chama-se de luto, o período no qual a pessoa vive um sentimento de perda. É o nome que se dá a todo o processo pós morte, e é uma reação normal e esperada, quando se perde um ente querido. O processo de luto passa por várias fases distintas. Nas horas e dias seguintes à morte, a maioria das pessoas passa por uma fase de descrença, ficando totalmente “atordoadas” como se não pudessem acreditar no acontecido, mesmo quando a morte já era esperada. Depois dessa fase, surge um período de grande agitação e ansiedade. São comuns dificuldades em relaxar ou concentrar-se e insônias. A pessoa sente-se muito revoltada contra médicos que não conseguiram impedir a morte, contra amigos e familiares ou até mesmo contra a pessoa que morreu e que a deixou. Também é comum se culpar por tudo que não foi dito ou feito à pessoa morta, ou por tudo que poderia ter sido feito para evitar a morte. Este estado de agitação geralmente é mais forte nas duas semanas após a morte, mas logo dá lugar a períodos de grande tristeza, apatia e depressão. Surgem crises de choro e angústia intensa. Pode haver tendência de evitar outras pessoas e passar muito tempo pensativa, recordando da pessoa que morreu. À medida que o tempo passa, a depressão se atenua e começa-se a pensar em outros assuntos e até projetos para o futuro. É quando começa a fase de recuperação.
O que é luto normal e luto patológico?
É difícil falar de um tempo normal para a resolução de um luto, geralmente os profissionais trabalham com uma média de um a dois anos. Mas essa duração depende de inúmeras variáveis, como por exemplo, a forma da morte, o papel que essa pessoa tinha dentro da família, o apoio familiar, psicológico e social que o enlutado recebe, crenças culturais e religiosas, etc. A morte de um filho por exemplo, geralmente é muito mais sentida que a de algum outro parente menos próximo.
São comuns reações emocionais como tristeza, culpa, raiva, mágoa, solidão, baixa auto estima, etc. Também podem haver vários sintomas físicos, como: desmaios, falta de ar, dores em diversas partes do corpo, perda ou aumento de apetite, insônia, dificuldades de concentração, diminuição ou aumento da pressão arterial, etc. No caso de crianças pode haver uma regressão, como voltar a urinar na cama, medos e outros. Tudo isso pode fazer parte de um processo de luto normal, contanto que não dure muito tempo. Se estes sintomas persistirem, podemos pensar em um luto patológico. No luto patológico, a pessoa não sai do luto ou nem sequer entra nele (nega suas emoções). É o caso de muitas pessoas que não conseguiram chorar a perda de alguém querido, não falam sobre o assunto e parecem voltar à vida normal rapidamente. Neste luto “adiado”, a dor fica guardada e um dia vêm à tona. No outro extremo, estão aqueles que mantém intacto o quarto da pessoa morta, como se ela ainda estivesse viva, ou não querem amar novamente, se tornam amargas, com medo de sofrer novas perdas. Quando não se resolve um luto, isso pode afetar várias áreas da vida e ser o início de sintomas físicos e emocionais graves. Para estas pessoas é indicada uma terapia para que possa haver recuperação.
Como ajudar uma pessoa enlutada:
- É importante ter alguém disponível para ouvir com atenção sem tentar sempre mudar de assunto. Certas pessoas precisam repetir várias vezes a mesma coisa até que se aliviem.
- Silêncio, proximidade física e gestos também são meios de se comunicar. O amparo físico é muito importante.
- Não tentar fazer com que a pessoa pare de sofrer rapidamente. Cada um tem o seu ritmo de recuperação.
- Sentimentos como raiva, mágoa, remorso, devem ser expressos. Deve-se evitar falar coisas do tipo: “Não diga isso” ou “Nem pense nisso”. Quando certos pensamentos ou lembranças são proibidos, podem ressurgir mais tarde em forma de sintomas.
- Deixar que a pessoa participe do velório e enterro, inclusive as crianças, se elas estiverem dispostas. Não é indicado o uso de calmantes fortes, pois isso impede que se vivencie a situação de dor, que fica “apagada”, causando problemas mais tarde.
- Para amortecer o impacto da perda, a família pode precisar de outros recursos, como por exemplo alguém que possa cuidar das crianças pequenas (no caso da morte da mãe), ou de ajuda financeira (no caso da morte de quem sustentava a família). A rede de apoio disponível tem fundamental importância neste período.
- No processo de recuperação deve haver um realinhamento e redistribuição de papéis para compensar a perda. Quando morre alguém importante para o funcionamento emocional ou financeiro da família por exemplo, alguém outro deve assumir este papel. Quando morre um filho, a família tem que encontrar um novo foco de amor e cuidados que antes eram dispensados a ele.
- Não existem respostas simples para a dor. Por isso quem quer ajudar uma pessoa enlutada, muito mais do que falar ou explicar, deve estar preparado para ouvir.